Ao desligar o cristianismo do judaísmo, São Paulo tornou a nova religião exportável para o mundo greco-romano. Mas seu crescimento foi vagaroso. Desde sua origem no século I, o cristianismo deitou raízes firmes no século II, cresceu bastante no século III e tornou-se a religião oficial do Império Romano no final do século IV.
A atração do cristianismo
O triunfo do cristianismo relacionou-se com o declínio correspondente na vitalidade do helenismo e com a mudança da ênfase cultural: o movimento da razão para emoção e a revelação. Oferecendo soluções confortadoras para os problemas existenciais da vida e da morte, a religião demonstrou uma capacidade maior que a da razão de comover os corações humanos. O helenismo inventara os instrumentos do pensamento racional, mas o poder do pensamento mítico jamais desapareceu totalmente. Ao final do Império Romano, a ciência e a filosofia foram incapacidade de competir com o misticismo e o mito. Os cultos de mistérios, que prometiam a salvação pessoal, difundiram-se e ganharam seguidores. Os neo-platônicos ansiavam pela união mística com o Uno. A astrologia e a magia, que ofereciam explicações sobrenaturais par aos fenômenos da natureza, também eram populares. Esse abandono dos valores racionais e terrenos contribuiu para preparar o caminho para o cristianismo. Num mundo greco-romano culturalmente estagnado e espiritualmente perturbado, o cristianismo deu à vida um significado novo e ofereceu uma nova esperança a homens e mulheres desiludidos.
A mensagem cristã de um salvador divino e um Pai interessado, bem como do amor fraternal, inspirou homens e mulheres desocntentes com o mundo em que viviam, que não se sentiam ligados à cidade ou ao império, que não tinham inspiração na filosofia e que sofriam de um profundo sentimento de solidão. O cristianismo oferecia ao homem aquilo que a acidade e o Estado mundial romano não lhe podiam dar: uma relação profundamente pessoal com Deus, uma ligação íntima com um mundo superior e a participação numa comunidade de fiéis que se preocupavam uns com os outros.
Ressaltando o intelecto e a autonomia, o pensamento greco-romano não satisfazia as necessidades emocionais do homem comum. O cristianismo procurou preencher essa lacuna da perspectiva greco-romana. Os pobres, os oprimidos e os escravos foram atraídos pela personalidade, vida, morte e ressurreição de Jesus, pelo seu amor a todos e sua preocupação com a humanidade sofredora. Encontraram apoio espiritual numa religião que estendia a mão do amor e ensinava que o valor da pessoa não dependia de seu nascimento, riqueza, educação ou talento. aos que se curvaram sob o peso das infelicidades e o terror da morte, o cristianismo oferecia a promessa da vida eterna, de um reino dos céus onde seriam reconfortados pelo Deus Pai. Assim deu ao homem e comum aquilo que os valores aristocráticos da civilização graco-romano não podiam dar – esperança, senso de dignidade e força interior.
O êxito do cristianismo deveu-se não apenas ao apelo de suas mensagens, mas também ao vigor de sua instituição, a Igreja, que cresceu e se transformou numa organização poderosa, unindo todos os fiéis. Aos moradores das cidades, solitários, alienados, desiludidos com os negócios públicos – mortais desamparados em busca de um sentido de comunidade –, a Igreja, que chamava seus membros de irmãos e irmãs, satisfazia à necessidade elementar dos seres humanos de pertencer a algo. Recebia bem as mulheres que se convertiam, e muitas vezes elas ingressavam primeiro que os maridos, trazendo-os depois. Entre outras razões, a Igreja atraía as mulheres porque mandava que os maridos tratassem as esposas com bondade, fossem fiéis e sustentassem os filhos. A Igreja conquistou novos e conservou a fidelidade dos antigos proporcionando assistência social aos pobres e enfermos, recebendo escravos, criminosos, pecadores e outros párias, e estendendo a mão da fraternidade e do conforto em momentos de dificuldade.
A capacidade que teve o cristianismo de assimilar elementos da filosofia grega, e mesmo das religiões de mistérios, também contribuiu em grande parte para seu crescimento. Recorrendo à filosofia grega, o cristianismo pôde apresentar-se em termos compreensíveis aos versados na língua grega e, dessa forma, atrair pessoas cultas. Os conversos instruídos em filosofia mostravam-se hábeis defensores de sua fé recém-adotada. Como algumas das doutrinas cristãs(o Deus – Salvador renascido, a virgem e seu filho, a vida após a morte, a comunhão com o divino) e de suas práticas (purificação pelo batismo), bem como os dias santos (25 de dezembro era a data de nascimento do deus Mitra), encontravam paralelo ou vinham das religiões de mistérios, foi relativamente fácil conquistar conversos entre elas.
by Tatiane
Veja também:
Introdução – “Primórdios do cristianismo uma religião mundial “
Parte 1: “Jesus a transformação moral do individuo”
Parte 2: “São Paulo: de seita judaica a religião mundial“
Parte 3: “Difusão e triunfo do cristianismo”
parte 4: “O cristianismo e Roma”
em breve – Cristianismo e a filosofia grega